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Ma Daode acaba de ser nomeado diretor da Repartição do Sonho da China, um novo organismo que pretende substituir, até por meios tecnológicos, os sonhos privados de cada pessoa pelo grande sonho da China anunciado pelo «plano de rejuvenescimento nacional» do presidente Xi Jinping.
O slogan está em toda parte, em outdoors, discursos e anúncios - e mistura patriotismo e autoajuda com os «objetivos gémeos de resgatar o orgulho nacional e alcançar o bem-estar pessoal».
Ma Daode gosta de sexo e de dinheiro, tem poder, uma dúzia de amantes que lhe enviam mensagens para vários telemóveis, uma filha que estuda em Londres, um gabinete moderno e uma riqueza considerável, alimentada por anos de corrupção. Tudo vai, portanto, correr bem - até que começa a ser atormentado pelas memórias da Revolução Cultural dos anos 1960 e do seu historial de horrores, violência, morte e destruição. O seu «sonho da China» cruza-se com o «pesadelo da China», e com o desfile de imagens do caos e dos fantasmas do passado. O que levanta um problema: se o Partido tem acesso a todos os sonhos individuais, então Ma Daode tem de esconder esses pesadelos proibidos e apagar a memória. Como vai fazê-lo?
Mais do que uma distopia, O Sonho da China é um passeio tragicómico pelos horrores e absurdos do poder totalitário. Mas o riso abre as portas a um caos povoado de fantasmas e de acontecimentos que não conseguem ser esquecidos na história da China de hoje.