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Queremos uma filosofia que seja filosofia e nada mais, que aceite o seu destino, sem o seu esplendor e a sua miséria, e não torça os olhos, invejosa, querendo para si as virtudes cognoscitivas que outras ciências possuem, como é a exactidão da verdade matemática ou a comprovação sensível e o praticismo da verdade física. Não foi casual que no último século fosse o filósofo tão infiel à sua condição. Foi característico desses tempos no Ocidente não aceitar o Destino, querer ser o que não se era. Por isso foi uma época constitutivamente revolucionária. Em sentido último, «espírito revolucionário» significa não somente anseio de melhorar — coisa que é sempre excelente e nobre —, mas crer que se pode ser sem limites o que não se é, o que radicalmente não se é, que basta pensar numa ordem do mundo ou da sociedade que parecem óptimas para que devamos realizá-las, não reparando que o mundo e a sociedade têm uma estrutura essencial imutável, a qual limita a realização dos nossos desejos e dá um carácter de frivolidade a todo o reformismo que não conte com ela. O espírito revolucionário que tenta utopicamente fazer que as coisas sejam o que nunca poderiam ser nem têm razão para ser, é preciso que seja substituído pelo grande princípio ético que Píndaro liricamente apregoava e diz, sem mais, assim: Chega a ser o que és.