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«Mas o corpo não esquece. E por isso é ele que regressa um dia ao local do crime, é ele que quer recuperar o que lhe foi roubado.»
Houve alturas em que Anna acreditou na igualdade que recompensa independentemente do género, «que não quer saber se usas maquilhagem ou como são as tuas pernas». Mas depois, como muitas raparigas e mulheres, sentia necessidade de ser vista e de se sentir especial. E, perante os olhares, as mãos e as palavras dos homens, não conseguia deixar de ceder - espaço, voz, partes de si -, embora dividida entre o desejo de se mostrar e o pavor de o fazer.
E agora, que dá aulas num mestrado em jornalismo, dá por si a discutir o legado do #MeToo com muitas jovens, enquanto pensa em todas as vezes que cedeu. Quantas interpretações damos à palavra «consentimento»? Quando é que podemos ter a certeza de que um «sim» não esconde uma hesitação? Anna procura culpados, mas não tem a certeza de se poder considerar uma vítima. Terá de se perdoar a si mesma, olhando para dentro de si com coragem e sinceridade, para se poder aceitar e seguir em frente? Em todo o caso, continua à espera de que lhe peçam desculpa.
Proposto ao prestigiado Prémio Strega, este é um romance extremamente atual sobre como às vezes só muito tarde as mulheres percebem como sofreram abusos. Com a curiosidade e a inteligência que caracterizam a sua escrita, Michela Marzano convida-nos a refletir acerca da relação ambígua que temos com os outros e com o nosso próprio corpo