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É talvez um dos mais conhecidos da Comédia Humana, obra monumental com 96 romances e novelas, tendo sido publicado originalmente em quatro números sucessivos na Revue de Paris no inverno de 1834/35 e logo depois em livro em 1835.
O romance faz parte dos "Estudos dos Costumes - Cenas da Vida Privada" e transcorre em Paris a partir de novembro de 1819, na época da Restauração dos Bourbons. É uma história de duas filhas ingratas que arrancam tudo do pai para depois o abandonarem (e nem sequer o visitarem no leito de morte), uma espécie de transposição do drama de Rei Lear para a primeira metade do século XIX. ("Ah, meu amigo, não se case, não tenha filhos! Você lhes dá a vida e eles lhe dão a morte", recomenda Goriot no leito de morte.)
É também a história da iniciação de um jovem ambicioso, mas de coração puro, Eugène de Rastignac (Eugênio na edição organizada por Paulo Rónai), nos vícios e vaidades da alta sociedade, e seu posterior desencanto, no estilo de Julien Sorel de O Vermelho e o Negro. ("As almas belas não podem ficar muito tempo neste mundo. Realmente, como se poderiam aliar os grandes sentimentos a uma sociedade mesquinha, pequena, superficial?")
Outro personagem fascinante é o criminoso foragido Vautrin (conhecido no mundo do crime como Engana-A-Morte), "protótipo dos grandes revoltados do século XIX, o herói romântico por excelência",[3] que sonha em emigrar para a América e tenta ajudar nosso herói a enriquecer combinando um casamento a um assassinato (do irmão de uma jovem abandonada pela família rica). Aliás uma questão moral central ao romance, tirada de Rousseau, é: “Se lhe fosse possível matar à distância, sem nenhum contato físico nem risco de ser descoberto (e sem infligir sofrimento à vítima), um velho mandarim chinês para ficar com sua fortuna, você o faria?”
Como nas novelas televisivas contemporâneas, temos aqui o núcleo pobre (a sórdida pensão Casa Vauquer) contrapondo-se ao núcleo rico (a aristocracia parisiense que Balzac tão bem soube descrever), e personagens (o pai Goriot, Eugênio) circulando entre um ambiente e o outro, numa tensão contrastante.
Engels, companheiro de Karl Marx, certa vez declarou acerca da obra de Balzac: "Balzac, que considero um mestre do realismo bem superior a todos os Zolas do passado, presente e futuro, na Comédia Humana [...] reúne uma história completa da Sociedade Francesa da qual, mesmo nos seus pormenores econômicos (por exemplo, a redistribuição da propriedade imobiliária e pessoal depois da Revolução Francesa), aprendi mais do que de todos os professos historiadores, economistas e estatísticos da época juntos" (Carta a Margaret Harkness de abril de 1888). [4]
W. Somerset Maugham, em seu livro Ten novels and their authors, escreve: "Se alguém que nunca tivesse lido Balzac me pedisse para lhe indicar o romance que melhor o representa e que dá ao leitor tudo aquilo que o autor era capaz de dar, eu lhe recomendaria sem hesitação O pai Goriot.”[5]
A obra recebeu resenhas heterogêneas. Alguns críticos elogiaram o autor pelos personagens complexos e atenção aos detalhes, enquanto outros o condenaram pelas descrições de corrupção e ganância. O livro rapidamente conquistou popularidade, tendo sido adaptado no cinema e teatro.