Invasão da Índia (Notas de Um Ex-Prisioneiro de Guerra) 1º Edição 1976

As páginas singelas que vão ler não se destinavam a ser publicadas; elas foram escritas somente com a ideia, de o seu autor, mais tarde, poder contar aos seus, com o necessário pormenor, esta fase amarga da sua vida, que o tempo, aliás, com o seu manto protector, há-de acabar por colorir.

Todavia, uma conversa casual com o professor ilustre Arlindo de Magalhães, permitiu que estes escritos saíssem finalmente da gaveta, em que ciosamente se guardaram, durante 13 anos.

Ele, meu mestre, amigo e companheiro mais velho. é o único responsável de as linhas que tão desajeitadamente escrevi, terem chegado até vós, leitores, com a espontaneidade de quem escreve, tendo certeza de que não vai ser lido, a não ser pelos íntimos, sempre naturalmente prontos a perdoar ou a esquecer...

Foi ele que me disse para não retocar nada, para não alterar nada, para assim vos oferecer, tal como o escrevi, este trabalho de recolha e compilação de factos relacionados com a Invasão da India Portuguesa, acerca da qual tão pouco ainda se disse até hoje.

Sentir-me-ia inteiramente compensado se este trabalho suscitasse o interesse, pelo menos, dos que viveram comigo o drama da queda da Índia Portuguesa e mais, os levasse a sair do seu prolongado silêncio, para darem ao País o retrato do acontecido naquelas longínquas paragens.
Porto, 14 de Julho de 1974