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Mas Beth dava crédito àquelas coisas. Sinais e previsões...Tinha um historial completo, uma estrutura de vida assente na sorte, nos sonhos, nos palpites. E tudo se desmoronou de um momento para o outro, no dia em que Ben desapareceu. Não tinha avido nenhum aviso. Jamais houvera qualquer aviso.
Bastou apenas um instante para que, naquele irrequieto átrio de hotel onde Beth iria rever os seus ex-colegas de liceu, Ben, o seu alegre e doce filho de três anos de idade, largasse a mão do seu irmão mais velho e desaparecesse sem deixar um único rasto visível. A sua ausência, viria contudo, a fecundar com sementes a disfuncionalidade, um terreno familiar aparentemente banal, votando todos os seus elementos a uma profunda agonia. Diante das trevas da perda, restou-lhes o questionamento da essência da humanidade e a amarga criação de uma nova matriz familiar composta por agentes marcados, envelhecidos, adultos. A uma mãe distraída mas eficiente, sucedeu uma outra atenta mas tolhida de desgosto. A um pai afável e pragmático, substitui-se um carácter melancólico e desesperado, a um irmão mais velho reservado mas autêntico sobrepôs-se um adolescente agressivo e afectado por laivos de delinquência. Indiferente permaneceu Kerry, a irmã mais nova que, sendo ainda bebé aquando do desaparecimento de Ben, aprendeu a sobreviver autónoma e responsavelmente, integrando com normalidade um microcosmo relacional complexo e sinuoso. Mas bastou um dia, apenas um dia, nove anos depois do desaparecimento, para que Beth, e consequentemente toda a família erguesse um novo edifício de afectos..Apenas a abordagem de um jovem que durante todos aqueles anos morara somente a alguns metros de distância..
Pequena assinatura no interior.