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Prefácio
Há apenas duas décadas atrás, os sistemas digitais, então praticamente confinados apenas aos sistemas de processamento de informação e alguns outros (poucos) mais sofisticados, eram baseados em componentes discretos - díodos, transistores, resistências e condensadores. Com estes componentes, devidamente interligados em placas de circuito impresso, constituiam-se módulos lógicos, os quais, uma vez ligados entre si por cablagem adequada, permitiam implementar os sistemas digitais pretendidos. Um computador digital de grande dimensão baseava-se numa família constituída por vinte a cem de tais módulos lógicos, sendo frequente a utilização de uma dezena a algumas centenas de cópias de cada módulo, em cada computador fabricado.
A partir de meados da década de 60, a evolução tecnológica verificada no fabrico dos semicondutores permitiu integrar um cada vez maior número de elementos electrónicos em áreas de pequeníssimas dimensões. Foram então desenvolvidas algumas famílias de módulos lógicos integrados para aplicação em sistemas digitais. Fabricados em grandes quantidades, estes módulos atingiram preços muito baixos, o que os tornou muito atraentes para aplicação nos mais variados sistemas electrónicos.
A divulgação generalizada destes módulos lógicos provocou uma primeira mudança no modo de encarar o projecto de sistemas digitais: Para a concepção de tais sistemas, as qualidades para projectista de sistemas lógicos passaram a ter a primazia sobre as de projectista de circuitos electrónicos.
Os níveis de integração alcançados no fabrico de circuitos integrados foi crescendo continuamente, deles resultando módulos lógicos cada vez mais complexos, até que nos primeiros anos da década de 70 foi fabricado o primeiro microprocessador.
Este componente electrónico veio abrir novas perspectivas ao projectista de sistemas digitais, originando nova e profunda alteração no modo de encarar o projecto de tais sistemas. Graças à programabilidade do microprocessador, as funções desempenhadas, por um sistema nele baseado, são fixadas por um sistema guardado na sua memória. Deste modo, a ênfase no projecto de sistemas desloca-se cada vez mais da engenharia electrónica convencional, caracterizada pelo «hardware», para o processo de converter um problema num programa, isto é, engenharia de «software». É esta viragem para o «software» que caracteriza a denominada «revolução do microprocessador», da qual tem resultado ser cada vez maior o número de aplicações desenvolvidas utilizando «software» específico em «hardware» de uso genérico.
A maior parte do custo de desenvolvimento de um sistema baseado em microprocessador reside na sua programação e na «massa cinzenta» para o projectar e conceber. O «hardware» terá um peso continuamente decrescente no custo final. Por isso, os países, como Portugal, não possuidores de alta tecnologia de circuitos electrónicos, têm a possibilidade de desenvolver tais sistemas a preços competitivos.
As áreas de aplicação dos microprocessadores são em número continuamente crescente, estendendo-se já a sectores até há pouco tempo santuários de electrónica analógica. Em Portugal, esta tendência é já bem visível. Contudo, para que se possa tirar o maior proveito possível da aplicação deste componente electrónico, torna-se necessário preparar técnicos para, não só conceber e projectar os sistemas nele baseados, como para assegurar a manutenção dos mesmos.
É, portanto, de louvar a feliz iniciativa, do Eng. Moura Relvas, de escrever um livro de introdução aos microcomputadores. Este irá ser, certamente, muito útil a todos aqueles que pretendem iniciar-se neste domínio e muito irá contribuir para a divulgação em Portugal desta nova técnica, bem como para a renovação de mentalidades (de técnicos, gestores e administradores) necessária para a sua plena aceitação e implantação.
De enaltecer o esforço desenvolvido pelo autor, pois que, não sendo um especialista no assunto, teve de desenvolver intenso trabalho de actualização e pesquisa, com o intuito de apresentar uma obra pioneira em Portugal e, a todos os títulos, elogiável.
O autor teve ainda a preocupação de apresentar em Português a grande maioria dos termos técnicos utilizados. Tarefa nada fácil mas que se aplaude com os votos que tal atitude seja seguida pelos autores portugueses, no sentido de se criar um vocabulário técnico Português, à semelhança do que acontece em muitos outros países.
Escrito numa linguagem simples e acessível, este livro desempenhará também, por certo, papel muito importante na actualização de conhecimentos de técnicos médios e de pessoal especializado, de cuja existência e necessidade de contínua actualização muitos, parece, se esqueceram.
José Carlos Diogo Marques dos Santos