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A passagem do centenário do nascimento de Flausino Torres constitui-se como a ocasião ideal para retirar do esquecimento público alguém que pelo seu percurso político e intelectual foi um participante activo em alguns dos mais decisivos momentos do século XX português e europeu.
Contemporâneo em Coimbra das primeiras lutas académicas contra a ditadura militar do 28 de Maio, foi director-bibliotecário da Associação Académica, secretário da loja maçónica A Revolta e revisor da Imprensa da Universidade até ao seu encerramento compulsivo por ordem de Salazar; activista do Partido Comunista Português (PCP), do Movimento de Unidade Nacional Anti-Fascista (MUNAF) e do Movimento de Unidade Democrática (MUD) em Lisboa no efémero momento de esperança que sobreveio à derrota do nazi-fascismo em 1945, foi conferencista na Universidade Popular e o autor mais prolixo da notável Biblioteca Cosmos dirigida por Bento de Jesus Caraça; resistente em Tondela nos difíceis combates da oposição democrática em 1949, em 1958 e em tantas outras ocasiões, marcou a diferença numa pequena vila do interior pelas suas posições frontais como professor, jornalista e historiador; exilado em Argel nos tempos conturbados da Frente Patriótica de Libertação Nacional (FPLN) e testemunha na heróica Praga da exaltante primavera política violentamente interrompida, em Agosto de 1968, pelos tanques soviéticos; deu as suas últimas lições a um grupo de estudantes universitários checoslovacos para quem escreveu a História de Portugal em que o Povo Português, com letra grande, como gostava de grafar, surge como o protagonista principal.
Ter estado presente em todos este lugares da história seria por si só excepcional mas Flausino Torres não se limitou nunca a assistir aos acontecimentos que acompanharam a sua vida. Desde muito jovem, em tempos bem mais perigosos do que os actuais, fez a sua escolha política por um dos lados da barricada, como ele próprio afirmava - o lado dos desfavorecidos e dos oprimidos do seu país e de todo o mundo - e tomou um caminho intelectual, não sem contradições, em que o referente marxista se cruzou com o seu apurado sentido crítico e pragmático.
O seu testemunho documental, inédito até hoje, é pois um contributo valioso para o conhecimento de acontecimentos e contextos vários da história política portuguesa do século XX, com um particular destaque para a história do PCP, ainda com tanto por desvendar, mas igualmente para a história da oposição ao Estado Novo, da cultura portuguesa das décadas de 1930 a 1960 e mesmo para a história local de Tondela.