Viver todos os dias cansa

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Viver todos os dias cansa
Autor(a)
Pedro Paixão
Editora
Círculo de Leitores
Género Literário
Autores Portugueses
Romance
Sinopse

“Sei pouco sobre as mulheres e cada vez sei menos. Nem sei – ou quando sei já é tarde demais – se gostam de mim e se isso acontece, não chego a saber o que possa querer dizer. Há muitas maneiras de gostar, é verdade. Quando se gosta de um casado é ele que o trazemos mais vezes. Com as mulheres é diferente. O que importa, acho eu, não é nem o que elas dizem nem o que elas fazem mas o que elas não dizem e pensam fazer. É preciso adivinhar e eu sou muito mau a adivinhar. Depois, quando as coisas acabam e olhamos para trás, não ficamos mais elucidados. Sabemos contar aos amigos uma história que tem princípio, meio e fim mas que bem poderia ter sido outra. Uma pessoa é um mistério, duas, com um abismo pelo meio, uma prodigiosa contradição. (…)
Ela tinha um irmão cinco anos mais velho, passou dez anos num colégio de freiras irlandesas, começou um curso de restauro que não acabou e era agora um modelo de moda muito procurado. Não tinha feito nada por isso. Aliás era capaz de encontrar defeitos em todas as partes do seu corpo, e nunca gostou que lhe olhassem como se não houvesse mais nada. Se se tornou modelo foi por acaso e por necessidade. Já não tinha de andar de autocarro, fazer contas para comprar um casaco de linho encarnado e pedir ao irmão o último compacto dos Massive Attack. Estas coisas são importantes.
Vivia num segundo andar em Campolide, os vizinhos eram simpáticos e já não ouvia os aviões a descerem para o aeroporto porque se habituara. O autociclismo estava outra vez avariado, mas isso acontecia com tanta frequência que não valia a pena sequer irritar-se.
Tinha um novo namorado. Uma amiga comum tinha-os apresentado, convencida que estava que não ia dar resultado. Mas eles tinham coisas em comum. Gostavam, por exemplo, de jogar Mikado. É um jogo que se joga no chão com uns pauzinhos que se têm de tirar, um a um, sem que os outros estremeçam. Às vezes, enquanto jogavam, ele pensava noutras coisas mas era um rapaz muito educado e não era parvo. Ele tinha tudo o que queria dela ou quase. Ela não o deixava beijar a boca e nunca beijava a dele. Era uma coisa sobre a qual só tinham falado uma vez, mas havia tantas outras coisas das quais falavam. Ele gostava mesmo dela.
Ela era muito bela. Ficava bem de qualquer maneira e com qualquer coisa. Gostava de chapéus apesar de já não se usarem muito. Mas ela, de chapéu ou sem chapéu, fazia os homens e as mulheres virarem-se onde quer que entrasse. Ele ficava um pouco atrapalhado por ser naturalmente tímido e não estar habituado a que o olhassem a ele.
Quando ela precisava de viajar ele acompanhava-a, o que acontecia frequentemente. Até ao Cairo foram uma vez. Ele era estudante de filosofia e podia faltar às aulas. Era ela que pagava, o que não tem mal algum porque alguém lhe pagava a ela e não lhe importava saber quem era.
Recusava-se a ver as revistas onde saía. Tinha-o feito da primeira vez e não se tinha reconhecido. Tinha-se mesmo zangado com o fotógrafo mas depois percebeu que a culpa não estava no fotógrafo mas nela, na cara dela, no corpo dela. É tão estranho ter-se um corpo, dizia-lhe ela mais de uma vez. Ele não dizia nada. Tinha uma gaveta na casa dos pais onde guardava todas as revistas, todas as fotografias, todas as coisas que ela deitava fora. E eram já tantas que teve de arranjar uma maior.
Não viviam juntos mas quase. Deitavam-se cedo e não gostavam de sair na cidade. Só quando era mesmo preciso para celebrar um aniversário. Gostavam da mesma música mas não dos mesmos livros e nunca se zangavam. Discutiam por vezes, isso sim, sobre os temas mais variados e depois reiam-se um do outro e abraçavam-se. Mas não se beijavam. Ele queria beijá-la mas ela não queria beijá-lo e por vezes discutiam mais um bocadinho e acabavam por adormecer de mãos dadas.
De repente as coisas mudaram. Ele deixou de querer jogar Mikado. Ela começou a dizer-lhe que não era bom faltar às aulas. Ele deixou de comprar as revistas. Ela já pensava em mudar de casa. Uma vez marcaram um encontro à mesma hora em sítios trocados. Nessa noite beijaram-se e no dia seguinte separaram-se. Nunca ninguém percebeu porquê. Eu sim, eu sei porquê. Eu e tu.”

CRÍTICAS DE IMPRENSA
«Provavelmente este livro será o mais bem armado e, também provavelmente, muitos voltarão a dizer que ele é o melhor escritor português da sua geração. Sem exagero.»
Rui Tendinha

«Pois é assim. Pedro Paixão saiu da sua geração e entrou na minha efectiva e afectiva leitura intemporal. Redespertou-me o gosto de ler.»
Fernanda Botelho

«Um escritor que diz que este é o seu melhor livro – e tem razão.»
Tereza Coelho

«Com uma caneta por testemunho e um espelho como confessionário, faça-se a arqueologia de afectos e desafectos. Um tratado das paixões da alma.»
Sílvia Cunha

Idioma
Português
Preço
4.00€
Estado do livro
Em muito bom estado. Sobrecapa com algumas marcas de atrito, mas capa impecável.
Lisboa: Círculo de Leitores, 1997; 117 pp. ; 21 cm; capa dura
ISBN: 972-42-1668-3

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HelenaFigueira

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