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Escritor, viajante, ex-jornalista, ex-oficial do Exército britânico, formado em Oxford, casado, cinco filhos. Assim poderia resumir-se a vida de James Morris. E todavia falta o essencial, aqui contado na primeira pessoa: uma imensa viagem interior ao longo de dez anos, que o transformou em Jan.
«Perguntam-me muitas vezes se não lamento nada, e eu respondo em tom frívolo que não. Mas é claro que lamento várias coisas. Lamento o choque que causei nas outras pessoas. Esporadicamente, lamento a perda da minha masculinidade, nos momentos em que gostava que os outros ouvissem a minha opinião. Lamento que tudo isto tenha sido necessário, assim como lamento os anos perdidos de plenitude, enquanto homem ou enquanto mulher, de que poderia ter gozado. Mas nem por um momento me arrependo da mudança em si. Não via outra alternativa, e a operação a que me submeti tornou-me feliz. Ao olhar para as minhas paixões ininterruptas, ainda estupefacta perante a sensualidade universal da vida, chego à conclusão de que não há outra pessoa no mundo que eu preferisse ser em lugar de mim própria.»