Este livro está na lista de favoritos de 1 utilizadores.
É uma história realmente de amor, do amor visto como possessão «demoníaca», tal como o era há duzentos anos, em terras sul-americanas, dominadas
oficialmente pela coroa espanhola e pelo catolicismo da Contra-Reforma, mas na verdade vivendo a respiração ardente dos calores tropicais e dos ritmos e cultos
africanos. Uma história assim não se desvenda, lê-se. Direi apenas que a personagem principal é uma menina possuidora de imensa cabeleira cor de cobre e que são esses cabelos que desencadeiam as mais violentas reacções - Tomás de Aquino dizia, como se lê numa das epigrafes, que «parece que os cabelos hão-de ressuscitar muito menos do que as outras partes do corpo»; como se os cabelos, conhecida fonte de sedução feminina, sofressem uma condenação especial. Garcia Márquez «salva» os cabelos dessa fatalidade e só lhe podemos ficar gratos por essa atitude.
António Carvalho