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Edição Campo das Letras de 2006
Tradução de Nuno Judice
Um dos aspectos interessantes desta nova versão do mito de D. João é o modo ambíguo como Molière constrói o seu personagem.
Se, a uma primeira leitura, há a tentação de fazer uma leitura moralista e aceitar o que parece ser a sua condenação ao Inferno, num plano mais profundo encontramos na sua boca a crítica violenta não só dos códigos opressivos da sociedade francesa – baseados na religião e na monarquia – feitos de forma bastante clara, designadamente no que toca ao ateísmo, o que só é possível porque Molière aproveita esse lado negativo do personagem para meter na sua boca afirmações que seriam imediatamente esconjuradas se feitas por um herói em quem o público se pudesse reconhecer.
É isso, no entanto, que vai fazendo com que D. João acabe por “seduzir” esse público, acabando por se lhe tornar simpático, não só pela subversão do seu pensamento como pelo seu desafio a todos os interditos – desde o do sexo até ao das censuras, mesmo quando elas são personificadas por figuras do outro mundo, como a Alma do Comendador.
E será este facto que explica que esta peça tenha visto a sua carreira reduzida a quinze representações no ano de 1665 e, finalmente, não tenha voltado à cena por muitos anos, só tendo sido editada em 1682, em versão expurgada, depois da morte do seu autor.
Nuno Júdice