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Edição Difel de 1984
Tradução de Miguel Serras Pereira
O ÓPIO é uma decisão a tomar. O nosso único erro é querermos fumar e compartilhar os privilégios dos que não fumam. É raro um fumador deixar o ÓPIO. O ÓPIO é que o deixa arruinando tudo. É uma substância que escapa à análise, viva, caprichosa, capaz de se voltar bruscamente contra o fumador. É um barómetro de sensibilidade doentia. Em certas alturas húmidas os cachimbos escorrem. O fumador chega à beira-mar e a droga incha, recusa-se a cozer. A aproximação da neve, de uma trovoada, do mistral, tornam-na ineficaz. Certas presenças faladoras retiram-lhe toda a virtude.
Em suma, não existe amante mais exigente que a droga que leva o ciúme ao ponto de castrar o fumador.»
«O tédio mortal do fumador curado. Tudo o que fazemos na vida, mesmo o amor, fazemo-lo no comboio expresso que corre em direcção à morte. Fumar ÓPIO é deixar este comboio em andamento; é ocuparmo-nos de outra coisa em vez da vida e da morte.»
Jean Cocteau
Em 1928, Jean Cocteau entra numa clínica para uma cura de desintoxicação do ÓPIO. Aí, escreve e desenha. O presente livro reúne alguns desenhos e um conjunto de textos escritos pelo autor; observações sobre cinema, anotações, jogos de palavras, comentários sobre literatura e escritores, opiniões sobre a poesia, a arte, a criação, mas tendo sempre presente o tema fulcral, o ÓPIO.