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Eis um livro de conselhos para aqueles que ousarão um dia o impossível: caminhar seguros céu adentro e atingir as estrelas. Ele mostra a arte de preencher e iluminar o Vazio, um vazio que se estende entre duas torres, duas orlas de uma ravina, dois planetas, ou o espaço entre o coração e o espírito. Um fio liga aquilo que teria ficado para sempre separado na solidão.
«Hei! Tem cudado!», disse-me um dia um velho índio da floresta virgem da Amazónia, quando toquei num cabo de aço que estava demasiado tenso, «não faças mal ao cabo, a sua alma é tenra». Um cabo canta, transpira, eructa e antes de se quebrar geme, sofrendo; ao tocá-lo pode-se ouvir o seu pranto. Quando finalmente se rompe exala um fumo, as filaças incandescentes inflamam-se de cólera. Sei do que falo, já icei um barco montanha acima: sei que neste livro tudo é verídico.
Eis um livro sobre o medo e a solidão, um livro sobre o sonho e a poesia, sobre as alturas cruéis e as nobres audácias, sobre o equilíbrio majestoso e a imobilidade de um outro mundo, sobre a queda e a morte. Ele evoca um êxtase que dormita no âmago de cada um de nós, um estado interior magnífico que é como um clarão escondido.
Eu presto-te homenagem, Philippe, Homem Frágil do Arame, Imperador do Ar. Como Fitzcarraldo, és incomparavelmente raro e prodigioso: um Conquistador do Inútil. E inclino-me perante ti com o mais profundo respeito.
Werner Herzog