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«Começaram a aparecer vários casos estranhos.
O primeiro foi o caso da mulher que ouvia vozes, ou sons. Melhor dizendo, vozes indistintas, um pouco longínquas: esssas vozes formavas um permanente lençol de som, paralelo ao real. A paciente ouvia também, às vezes, distinas palavras soltas e, raramente, frases inteiras de estranho significado.
Tudo isto contara a mulher ao psiquiatra, balbuciante. Estava exausta: pela ausência de silêncio, pelo receio de ter enlouquecido.
Começara por tomar calmantes discretos, e ocultara seu mal-estar de todos. Depois, confidenciara-se a alguns amigos. Estes haviam-na apoiado, com receio, com confiança, alguns com cumplicidade. Uns tinham-lhe recomendado que guardasse seus estranhos segredos, pois nada de bom advém àquele que percebe, vê ou ouve diferentemente dos seus semelhantes. Outros, recomendaram-lhe prestimosos psiquiatras, de variadíssimas técnicas, todos mestres em nos retirar dos ostracismos inquietantes e das angústias vivenciais.»
Maria Isabel Barreno