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No ano 338 de Hégira, 950 da nossa era, atraídos pela riqueza da cidade, muçulmanos, judeus e cristãos afluem a Córdova. A capital da Andaluzia, à qual apenas Bizâncio e Bagdade poderiam ser comparadas, não tem equivalente no Santo Império Romano-Germânico ou nos reinos normandos, nem no Magrebe, no Egipto ou na Síria.
Nas margens do Guadalquivir, três mil minaretes, campanários de igrejas e tectos de sinagogas erguem-se em volta da impressionante mesquita de Córdova, que reúne os sábios mais brilhantes do seu tempo, da mesma forma que na época helenística Alexandria atraía os grandes espíritos das terras circundantes do Mediterrâneo. Viviam lá, pelo menos, quinhentos mil habitantes. Medicina, matemática, astronomia... É o início de uma revolução científica, apoiada pelo califa.
Abd-el-Rahman é um liberal, um inovador. Os seus antepassados omíadas foram assasinados pelos Abássidas em nomes do Islão. Sua avó é cristã, as suas concubinas das três confissões. Visceralmente tolerante, acredita na razão humana, inscreve o desenvolvimento das ciências num projecto de civilização e reúne à sua volta a elite da época. Neste grupo de personagens destaca-se o surpreendente Hasdaï ibn Shaprout, protector da comunidade judaica, investigador e diplomata. Herói desta história, deste relato, ele é o símbolo de um século em que os valores da curiosidade e da tolerância eram colocados acima dos valores identitários, em que coexistiam em harmonia as três religiões do Livro, «O Espírito de Córdova».