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«Sempre sonhei ter um macaco! Não sei bem desde quando, nem porquê… a ideia apareceu-me, talvez, por ter ido tantas e tantas vezes ao Jardim Zoológico quando era pequeno. Ou talvez a vontade de ter um macaco me tenha vindo do filme do Tarzan com o Johnny Weissmuller, que tantas vezes vi no São Luiz e no Jardim Cinema.
Mas, verdadeiramente, esse desejo veio ao de cima quando cheguei a Angola. Uma certa nostalgia do passado ou simplesmente porque me sentia bastante isolado? Não sei! Resolvi mesmo arranjar um macaco, logo após ter regressado de Luanda.
Numa das minhas visitas ao soba Mocobote, encomendei-lhe um macaquinho. Tinha de ser de pouca idade e de raça que não crescesse muito. Prometi-lhe cinquenta escudos.
Passadas umas três semanas, estando eu no quartel, cerca das nove horas da manhã, já o sol estava quente, chamaram-me ao portão pois havia um grande grupo de negros para me falar. Fiquei boquiaberto! Defronte da porta de armas, estavam mais de trinta pessoas, entre homens, mulheres e crianças. O grupo era encabeçado pelo soba Mocobote, que se adiantou para me cumprimentar. Trazia botas, certamente calçadas antes de entrar na povoação, uma capa comprida de pele de olongue (kudu) fina e bem curtida e um grande chapéu de copa alta. A algazarra alegre e bem-disposta calou-se repentinamente; quando o soba avançou para mim, todos queriam ouvir a saudação.
- Bom dia, mê arfere. Soba Mocobote cumprir paravra e trazê macaco.»