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Setenta e quatro anos após a morte, Jarry continua a ser um poeta da Vanguarda. A sua literatura não se esgotará no século XXI. Os seus ultrajes culturais continuarão a ofender as instituições dos anos 2000 e a indignar a Facilidade.
No mundo simbolista em que viveu, ninguém conseguiu meter o dente em Os Dias e as Noites nem engolir O Amor Absoluto. Dadá e Surrealistas conseguiram lançar alguma luz sobre a poesia dessas obras; as últimas descobertas das ciências linguísticas e semiológicas ajudaram a descodificar as linguagens de Jarry; mas muita coisa há ainda para (nos) lermos na floresta virgem e feroz de Faustroll-Ubu-Jarry.
Com Os Dias e as Noites, Jarry deserta tão radicalmente do «aquartelamento da razão reinante» que «nenhuma análise ainda conseguiu esclarecer inteiramente o que no romance há de mais profundo» (R. Gentis).
O Amor Absoluto leva tão longe a desconstrução do mito mais fundamental da nossa cultura (a relação Jesus/Maria) que nenhuma das teologias estabelecidas logrou alargar tanto os limites do mistério.
Descrições científicas e elucubrações filosóficas, recordações de infância, delírios e sonhos despertos, um discurso que no seu estado normal é, confessadamente, muito semelhante ao «dos que comem haxixe», o inconsciente colectivo bretão: todos estes códigos se entrelaçam com as narrativas evangélicas, mitológicas, mileumanoitísticas, formando o mais forte manifesto anti-bom senso, anti-razão, e anti-cultura que à «Belle époque» foi dado ler... Manuel João Gomes
Detalhes do livro:
Editora: Estampa, 1981; Tradução: Manuel João Gomes; Colecção: Novas Direcções; med.: 13,5 x 18,5 cm; 167 pg.