Este livro está na lista de favoritos de 3 utilizadores.
"Tranquei a porta e me olhei no espelho. Chorei mais um pouco e me perguntei por que eu era tão feia; por que meu cabelo era daquele jeito; por que eu era preta. E juro que, se pudesse, teria quebrado aquele espelho, teria sido violenta com aquela imagem que eu detestava, mas, em vez disso, preferi apenas morder meu lábio inferior até que ele sangrasse um pouco. […] Engoli o choro e a dor. Decidi que era assim que eu iria lidar com o sofrimento dali para a frente — não se empurra nenhuma mágoa para debaixo do tapete.» Esta é a história de Estela, menina de família pobre e fragmentada — o pai está longe e a mãe trabalha de sol a sol para sustentar a família.
A morte da avó, primeira perda entre muitas, traz à memória de Estela as lágrimas que derramou por um ovo caído de um ninho, pelo passarinho que não chegou a nascer. Percebeu então que o que queria da vida era ser filósofa. A vida de Estela decorre num quotidiano de violência, privação e desamparo, o quotidiano de todos os que não nascem privilegiados num país de enormes assimetrias. Contudo, com o espírito indómito de uma aprendiz de filósofa, não desiste de questionar o mundo e sonhar o caminho para a própria liberdade.
Tal como no inquietante O avesso da pele — romance vencedor do Prémio Jabuti e finalista dos Prémios Oceanos e São Paulo de Literatura —, Jeferson Tenório revela, em Estela sem Deus, a força de uma escrita de urgência, de compromisso e de beleza intemporal.