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«O Estado-Providência: Ricos e pobres em Portugal (5 de Março de 2006)
Nasci num país em que por todo o lado nos deparávamos com a miséria. Ainda hoje fico triste, ao recordar os coxos, subindo as colinas da cidade velha, ou, mais perto de mim, a engomadeira que se ia deitar sem ceia, a vendedeira de fruta, esguedelhada e magra, o marçano, encafuado como um rato na sua loja, os ceguinhos rolando os olhos como dois escarros, os velhos que pediam esmola pelas cinco chagas de Cristo e os operários, de olhar rebelde, dizendo-se artistas desgraçados. Salazar deu força à doutrina da Igreja, que proclamara «pobres sempre os tereis entre vós», aliás uma frase retirada do contexto. Seja como for, cada família tinha os «seus» pobres, os quais surgiam ciclicamente, mendigando um prato de sopa. Alguns anos se passaram antes de viver num país, a Inglaterra, onde os pobres, os velhos e os enfermos eram vistos de forma diferente. Em 1962, não só verifiquei existirem em Londres menos mendigos do que em Lisboa, como, ao consultar um médico, notei que o seu serviço era gratuito. Se pensarmos, como eu penso, que Samuel Johnson tinha razão quando escreveu «A existência de medidas decentes para proteger os pobres é o verdadeiro teste de uma sociedade civilizada», aquele país estava entre os mais civilizados do planeta. As leis promulgadas por Clement Attlee em 1945 haviam contribuído para que os pobres dispusessem de uma rede que os protegia do frio, da fome e da doença
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(Luis Santos / LuisXXI)