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Desta geração, em sentido literário, mais que vital, poucas expressões me parecem tão significativas como a que ficou consagrada em Retrato dum amigo enquanto falo, de Eduarda Dionísio. É o verdadeiro texto de transição entre o tempo antigo de onde arranca e os novos tempos auscultados nas subtis articulações em que o texto da Revolução foi vivido e ao mesmo tempo comentado e criticado. Autêntico espelho de uma nova sensibilidade, longa carta de amor como política e política como amor, veemente e extra-lúcida, poucos textos souberam apreender como este a atmosfera verbal, os signos sensíveis de um mundo que se desloca, o ritmo interior de uma démarche pessoal militante, paralela às oscilações e arrependimentos da Revolução. Nele se vê bem como «o mesmo» já não era «o mesmo» tanto tempo esperado. Até por herdeira, no sangue e na práxis, do melhor e mais lúcido investimento na esperança de um mundo renovado, a diferença, a marca específica de um tempo-outro toma em Eduarda Dionísio um relevo precioso. Não é essencialmente um olhar ofuscado pelo puro ideológico que escreve este sucinto memorial da vivência revolucionária em meio burguês e intelectual, é uma jovem vida impregnada de todos os ecos vitais e polémicos dos anos 60 que regista, com total liberdade de tom, a vivência do imprevisível revolucionário.
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(Luis Santos / LuisXXI)