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"Ouviu a voz do pai, de maquina em riste:
- Vou disparar.
A voz estava perdida no tempo, mas ela ainda a ouvia às vezes, quando não esperava, quando não estava a pensar nisso. "Vou disparar." Disparar como se a fuzilassem. Ela, encostadinha a uma árvore de um jardim qualquer, e, na sua frente, o pelotão de execução, melhor, o fuzilador. A palavra existiria, fuzilador? E havia no seu peito um pequeno receio duro e doloroso de fim, depois de uma ressurreição sem gloria, porque nem a morte nem a vida eram importantes. "Pronto, fica como ficar", disse o pai, aborrecido, e sentou-se no banco, perto da árvore. A mãe apertou o casaco contra o peito e disse: "Comeca a estar frio." Mas, de súbito, duvida, pensa: seria a mãe ou a outra? Qual delas teve frio na tarde da fotografia? E o tempo foi passando. Seta despedida não volta ao arco."
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(Luis Santos / LuisXXI)