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Lisboa, 1921. Vivem-se ainda as sequelas da Grande Guerra e os temores causados pela Revolução Russa, mas sente-se sobretudo o descrédito dos políticos, responsáveis por uma crise sem fim à vista que mergulha o País na miséria e acende, por todo o lado, focos de violência. O assunto é tema de conversa em casa do advogado viúvo Eugénio Furtado - o «palacete» onde reside com as irmãs e a sua bela e encantadora filha Madalena -, mas também no prédio ao lado, do qual são inquilinos um casal de aristocratas russos refugiados, um velho fidalgo monárquico, uma prima de Eugénio e a famosíssima Elisa, actriz de grande talento mas reputação duvidosa, que organiza continuamente festas e jantares. É num desses serões que Madalena conhece um médico por quem se apaixona; mas, se o namoro poderia, à partida, ter quase tudo para dar certo, uma série de mal- -entendidos e intrigas vem minar a relação dos dois, tal como o cortejo de conflitos e dramas sociais mina a credibilidade do regime, culminando na Noite Sangrenta - talvez o mais trágico e vergonhoso episódio da nossa história colectiva - durante a qual desaparece misteriosamente um dos protagonistas do romance. Com um riquíssimo leque de personagens - republicanos convictos e saudosos do rei, devotos de Fátima e ateus, aristocratas, burgueses e populares -, Margarida Palma parte do microcosmos de um bairro lisboeta para nos dar conta de como se vivia e amava em Portugal no mais violento período da I República.