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Mal começou o século XX, José Leite de Vasconcelos, que tinha acabado de travar conhecimento com o mirandês e de dar a conhecer algumas palavras do mesmo, manifestou a sua intenção de visitar um dia os cartórios públicos e particulares da região de Miranda em busca de outros mirandesismos: "Numa busca que algum dia farei em cartórios públicos e particulares da Terra-de-Miranda é provável que maior número de palavras mirandesas colha..." (Vasconcelos, 1901: 25).
O propósito do filólogo foi prontamente concretizado em 1902, embora nos tenha dado conta disso apenas em 1929, nos Opúsculos IV. A certo passo, Leite de Vasconcelos dá notícia de algumas palavras locais com que se deparou precisamente em documentos notariais dos séculos XVI a XVIII existentes no arquivo da Câmara Municipal. Não se tratava dos mesmos testamentos que fomos descobrir no Arquivo Municipal, mas de outros, de Aldeia Nova, do mesmo século, cujo rasto seguimos graças às suas indicações, de forma a dar continuidade ao labor de edição dos testamentos inéditos da região de Miranda, capazes de encerrar interferências e características do mirandês e da língua de Trás-os-Montes de outro modo inacessíveis ao estudo.
António Maria Mourinho, grande entusiasta e conhecedor da língua e cultura da Terra de Miranda — bem como, certamente, dessas palavras de Vasconcelos —, veio depois a mencionar a existência de um leque muito heterogéneo de documentos notariais ou tabeliónicos dos séculos XII a XIV, que não chegou, porém, a publicar, ora redigidos localmente ora de proveniência régia, mas relativos a propriedades e assuntos locais, quer portugueses quer leoneses, nos quais afloram, por entre a língua formal, termos e expressões do mirandês (Mourinho, 1987: 75).
Este livro apresenta a primeira edição integral de um desses códices, no âmbito de um projecto de edição e estudo de documentação jurídica em português da região de Miranda do Douro anterior ao século XIX, pelo seu valor enquanto fonte para o conhecimento do mirandês e para a descrição e aprofundamento dos traços do português europeu, e em particular de Trás-os-Montes.
Nunca utilizado/lido.
Sem marcas de uso e sem folhas amarelas.
Tem uma assinatura na parte interior da capa (não é visível porque a orelha do livro tapa).