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As memórias do passado distante ou do presente imediato, a sabedoria e as dores do amadurecimento, a indignação da cidadã e os encontros e desencontros do amor e do sexo são a matéria-prima de Entre ossos e a escrita. Nas crónicas aqui reunidas, Maitê Proença mostra em que nível se apossou completamente do texto como uma forma de expressão - o que é nada fácil para uma actriz consagrada, acostumada a trabalhar e a viver para o texto dos outros.
Escrever é, tanto quanto interpretar, expor-se. Ciente disso, Maitê tempera as crónicas com um elemento que explica fundamentalmente seu sucesso: a sinceridade. O que não transforma a escrita num exercício de confissão, muito pelo contrário. Impregnada de humor e ironia, que espantam a pieguice, ela mostra que a peculiar sinceridade do escritor envolve a fidelidade a impulsos e emoções e, também, a habilidade em mentir, seduzir.
Tudo o que se lê aqui é, assim, verdade e mentira: a família, as viagens, o 11 de Setembro da vida afectiva, o momento em que o inconsciente toma a frente e desmonta as resistências longamente cultivadas, a lembrança de uma grande actriz… O que importa é a cumplicidade que, pouco a pouco, se estabelece entre autora e leitor.