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Em 1942, quando tinha vinte e dois anos, Traudl Junge tornou-se secretária pessoal de Hitler. Tinha sido escolhida entre centenas de outras raparigas e estava a optar, sem o saber ainda, por servir o ditador, deixando para trás uma carreira de bailarina. Os primeiros anos ao lado de Hitler foram, segundo Traudl Junge, «anos de inocência», o que não faz deste relato verídico uma «justificação tardia» ou uma «confissão de leito de morte», revelada por alguém que na época era demasiado inexperiente para perceber que por detrás da fachada íntegra do seu chefe se escondia um homem com uma sede de poder criminosa. Mas apesar disso, a jovem secretária de Hitler nunca se libertou do sentimento de culpa por ter servido o responsável pela morte de milhões de pessoas que era, simultaneamente, um «homem simpático» e afectuoso, o chefe que simpatizava com ela e lhe depositava uma certa confiança. No último encontro entre Hitler e Traudl Junge, o führer ditou-lhe o famoso testamento político de conteúdo anti-semita, com a lista de nomes dos últimos fiéis, que deveriam integrar o governo-fantoche da «Nova Alemanha». Por ter sido, com este episódio, uma das últimas pessoas a ver Hitler vivo, Traudl Junge foi durante a vida inteira solicitada inúmeras vezes por jornalistas, escritores e historiadores para contar as suas memórias. Foi assim que acabou por nascer Até ao Fim, graças à colaboração da jornalista Melissa Müller, que ordenou biograficamente as anotações de Traudl Junge. Os textos dispersos transformaram-se assim num testemunho pessoal de inestimável valor histórico. «Esperei muito tempo antes de escrever as minhas memórias», disse um dia a secretária, que entretanto morreu, com 81 anos. Esta prudência deve-se certamente ao facto de este legado consistir, antes de mais, numa tentativa de compreensão dos factos não tanto para os desculpar, mas sobretudo para os esclarecer, o que não pode deixar ninguém indiferente. Trata-se, portanto, não só de um ajuste de contas com uma experiência pessoal, a de Traudl Junge, mas também de um ajuste de contas com a humanidade. Leitura obrigatória.