No rasto de Anne Frank

Setenta e seis pessoas tinham conhecido Anne Frank: umas haviam-na acompanhado em seus passos de adolescente; outras apenas com ela se tinham cruzado, consciente ou inconscientemente. Dessas 76 criaturas humanas, que o vendaval trágico da guerra dispersou e feriu, só 42 foram encontradas por Ernst Schnabel, o comovido, o apaixonado biógrafo da menina dolorosa do "Anexo" de Amesterdão. Muitas já tinham morrido, e raramente de morte natural; outras haviam desaparecido da Europa destroçada pelo furor nazi.

Com este seu livro, que é simultaneamente o fruto de uma minuciosa e rigorosa investigação e um tributo de carinho à memória de Anne Frank, cheio de ressonâncias humanitárias, Ernst Schnabel, novelista de primeira linha, já galardoado em 1957 com o Fontane Prize, vem agora completar o patético retrato de Anne Frank, mostrando-a ao mundo, através da mais exacta interpretação, como aquela criação de carne e osso que, entre a escola, a família e o sonho, foi colhida abruptamente pelo drama da guerra. Quarenta e duas testemunhas aqui depõem sobre a pequena Anne, que nós vemos, delicada e frágil, debruçada sobre o seu "diário" de quadrados vermelhos.

Não é a lenda o que Ernst Schnabel nos oferece, é tão-somente a verdade nua, em toda a sua desgarradora crueldade e simpleza, verdade que, neste caso, entre os singelos sonhos de vida quotidiana da menina prisioneira, sem saída para a luz, e o estrondear da guerra numa Europa consumida de horror e de pânico, sobrepuja a própria lenda...