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Acaba de estrear com sucesso assinalável a segunda peça de Jacinto Lucas Pires, "Arranha Céus", no Teatro São João, numa encenação de Ricardo Pais, um texto onde se entrecruzam vários registos discursivos, onde «o teatro namora com o cinema, com a música, com a dança». E acaba de ser publicado um novo livro seu, "2 Filmes e algo de Algodão", 3 histórias curtas e os guiões dos filmes "Cinemaamor", que Lucas Pires já filmou com actores dos Artistas Unidos, e "Almirante Reis". Povoam estas histórias miúdos que cravam moedinhas, empregados de supermercado que trauteiam José Cid, os polícias do giro, uma mulher de mini-saia preta e blusa verde-alface muito justa... Ouve-se David Byrne ou Elvis Presley.
Como o próprio afirma, a sua «grande influência são as ruas e as pessoas», e o cinema (Bergman, Godard, Felinni, Hartley,...) mais que a literatura. Mesmo os contos têm uma escrita cinematográfica. Veja-se o final do primeiro deste livro, "Algo de Algodão":
«Nos subúrbios há prédios negros e com manchas, e um rapaz com uma cicatriz sobe um lanço de escadas a assobiar, e um cão ladra na rua, e passa muito devagar um camião do lixo, e num andar um desconhecido de meia idade constrói um grande romance.
«Armando sonha que é um anjo; está sentado num muro, de dia, e repara que lhe nasceram umas borbulhas nas asas de penas brancas. Ana olha para ele da rua, em baixo. Armando pensa: será que ela vai conseguir sorrir para mim? E Ana, sim, sorri.
«A luz começa a levantar-se atrás do mar e dos prédios. Vai entrando pelas avenidas e pelas janelas. Armando e Ana mexem-se debaixo do lençol.
«Quando acordam está tudo muito calado.»