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"Um homem debate-se, como todos os homens, com a sombra do seu pai. Dele, e do pai, não chegaremos nunca a saber tudo, tal como nunca se chega a saber tudo a respeito e de ninguém. Uma mulher dorme, depois acorda. Também ela possuída por uma violência surda feita de memórias de que não chega a ter totalmente consciência. Ambos vivem como cegos. Já que todos vivemos assim e é a nossa condição. A ficção tenta abarcar essa solidão da noite que é preciso atravessar. Tenta, ao tentar dar-lhe uma estrutura narrativa, pensar a narrativa, pensar a noite. Embora saiba que nunca poderá ir mais longe que a metáfora. E que só as palavras o barulho, o som, eventualmente a música, poderão pretender ser realidade «criada». Ou seja: antes disto havia tudo isto. Depois disto, desta tentativa de «narrar», continuará a haver a mesma coisa, a noite. Uma noite cuja essência escapa para sempre. Uma noite mais vasta, indiferente a tudo. Estas vozes que saem da noite, talvez se tornem «reais», por um instante. Talvez até fiquem, como uma «realidade particular». Mas não definem nada. Nem há verdadeiramente julgamentos de valor. Porque tanto a autora como os personagens sabem, cada um na sua subjectividade, que tudo isso é vão."