Intersecções Intersectadas - David Goldblatt

David Goldblatt nasceu em Randfontein, nos arredores mineiros de Joanesburgo, na África do Sul, a 29 de novembro de 1930, filho de emigrantes judeus lituanos fugidos às perseguições do final do século XIX.

As suas primeiras imagens datam de 1948, “numa prática de rua aprendida com a «Life» e a «Picture Post»”, mas é sobretudo a partir de 1961 que se dedica à fotografia, documentando os abusos e as divisões provocadas pelo apartheid na África do Sul, sob o qual o governo da minoria branca consagrava as divisões raciais com base na lei de 1948 e que se prolongou até 1994.

Registou a preto e branco este pesadelo, através da vivência do dia-a-dia, do trabalho, das diferenças de classe, condições e estatuto e não pelas situações de violência brutal, dando-o a conhecer ao mundo, através de livros e revistas.

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O reconhecimento surge: foi o primeiro sul-africano a realizar uma exposição individual no Museu de Arte Moderna (MoMA), em Nova Iorque, era o ano de 1988. Em 1989, fundou o Workshop de Fotografia do Mercado, em Joanesburgo, que se tornou um centro para o desenvolvimento de jovens talentos na cidade.

Com o fim do apartheid, algo que ansiava e fundamento do seu trabalho ao longo de mais de 30 anos, sentiu-se abalado, “provocando-lhe um inesperado sentimento de estranheza e afastando-o do mundo da fotografia durante alguns anos”. Começou então a dedicar-se à fotografia a cor, à paisagem e a imprimir em grandes formatos.

Na África do Sul pós-apartheid, Goldblatt foi uma figura reverenciada, chegou a recusar uma homenagem nacional em protesto contra uma proposta de lei de 2011, relativa aos segredos de Estado; dois anos depois o então presidente Jacob Zuma recusou-se a assinar a lei, que previa penas de prisão até 25 anos pela divulgação de documentos considerados secretos.
Goldblat faleceu serenamente na sua casa, durante o sono, às 05h37 de 25 de junho de 2018, de acordo com o referido pela diretora da galeria sul-africana que o representa, Liza Essers, citada pela agência France Presse.
De acordo com o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, Goldblat “Nós perdemos mais um dos nossos célebres fotógrafos, que através da lente construíram uma reputação como um dos principais documentadores do país das lutas de nosso povo. (…) Ele capturou os sistemas de valores sociais e morais que retrataram a África do Sul durante um período do sistema do apartheid, a fim de influenciar sua paisagem política em mutação”.

A Fundação de Serralves, no Porto, mostrou a exposição “Intersecções Intersectadas”, de 26 de julho a 12 de outubro de 2008. Goldblatt esteve presente na inauguração. A exposição confronta imagens a preto e branco e a cor, de tempos diferentes, por vezes apresentando o mesmo local com algumas décadas de distância.

Este livro é o catálogo desta exposição, editado pela Fundação de Serralves em parceria com a Civilização Editora. Inclui o prefácio de João Fernandes, diretor do Museu de Serralves, dois ensaios: “Paralaxe e Paralelo: Os usos do tempo e do espaço nos pares de David Goldblatt”, de Ivor Powell e “A História em Movimento”. de Ulrich Loock. Goldblatt assina ainda “Legendas desenvolvidas”, onde fala sobre cada uma das imagens, cada par paralelamente e um “Glossário”.