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Para este livro nascer, foi primeiro necessário que existissem dois continentes e que alguns piemonteses, forçadps pela miséria, tivessem emigrado para desbravar uma parte dessa planície ilimitada conhecida pelo nome de pampa, onde o centro do mundo se desloca juntamente com o homem que caminha.
E foi também necessário que uma criança desde sempre votada ao trabalho dos campos ingressasse num seminário, contrariando os desígnios paternos, para aproveitar a única oportunidade então oferecida às pessoas da sua condição. Na Europa, a guerra atingia nessa altura o seu auge, enquanto na Argentina a ditadura – que em breve se tornaria a ditadura de Perón e de Eva Duarte – se instalava, num clima particularmente opressivo em que ninguém escapava à vigilância e à delação. Conseguindo abandonar o país, abra-se então para o narrador o tempo do exílio, durante o qual viverá sem dinheiro mas com a certeza de que, no reencontro da liberdade, a sua existência poderá, como todas as outras, adquirir os contornos de um destino.
Um notável romance autobiográfico, que revela ao leitor português um escritor internacionalmente consagrado: Hector Bianciotti.