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O sapato preto de verniz era a indumentária preferida da mãe em noites de cerimónia e de mistério.
A mística que o envolvia prolongara-se-lhe na idade adulta como fonte de identidade e de juventude. Todos os fenómenos importantes da sua vida reflectiam esse culto à juventude, ao estético, à procura da verdade.
Não fazia parte da dicotomia bom/mau, certo/errado, permanecendo estranho aos dois lados, com dificuldade de opção, nem enquadrado nem desenquadrado. A homossexualidade era apenas uma preferência, envolvida em contradições e relações de poder.
No quotidiano a memória como força de esquecimento leva-o a uma permanente busca de algo maior, a um sinal de esperança. Deixando-se levar pelos territórios obscuros da alma, consegue aproximar-se de si próprio e quebrar os impasses da vida.