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O Amante é um dos maiores sucessos desta escritora que marcou a literatura francesa do século XX. Trata-se de uma obra de cariz autobiográfico e que revela uma enorme coragem da escritora, tendo em conta o enredo do livro. Trata-se do relato de uma intensa paixão amorosa e sexual entre uma adolescente francesa, branca e pobre, de formação ocidental, e um chinês de classe alta da Indochina (antiga colónia francesa). Uma narrativa que expõe o relacionamento escandaloso e proibido entre uma jovem europeia e um oriental, algo inconcebível segundo o quadro normativo e as convenções sociais à época. Por outro lado, é também a afirmação de uma nova perspetiva, em quea mulher aparece como figura dominante, desconstruindo umavisão do feminino construída na matriz da solidão, da fragilidade e da dependência emocional. É essa solidão que conduz a jovem até à relação intensa mas efémera com o seu amante, que é visto como um ser superior, inacessível, pertencendo à esfera da elite poderosa e endinheirada. Por outro lado, a sua fraqueza e fragilidade é também evidenciada pela incapacidade em assumir qualquer compromisso, permanecendo sempre submisso ao poder e ao sistema em que se encontra inserido. Ela não se entrega por amor, nem sequer por atração, mas sim por revolta e solidão, numa indiferença suprema. No fundo o romance retrata não só o choque e a barreira que a cultura e os seus usos e costumes podem operar nas relações humanas, mas, sobretudo, o conceito de liberdade e a vivência erótica do corpo como prática interdita para as mulheres até há bem pouco tempo atrás. Uma obra proibida e censurada em muitos países do mundo, justamente por fazer a apologia da livre vivência do amor erótico e da mulher esfíngica que destrói.