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Este livro nasce de uma complicada genealogia diegética. Muitos de nós já ouvimos histórias de cavalos que sabiam contar ou dizer as capitais da Europa com golpes dos cascos no chão. Ora, esse caso é real, e remonta ao início do século XX, mais especificamente a "der kluge Hans", o cavalo do frenologista W. von Osten, apresentado numa Mitteleuropa de um tempo dividido entre o positivismo e misticismos vários, entre o progresso moral-social e o mais chão tradicionalismo, entre novas linguagens estéticas revolucionárias e os mais comezinhos dos princípios burgueses endomigados. Veja-se a versão cinematográfica de Woyzeck, de W. Herzog, para encontrarmos esse cavalo a servir de metonímia às experiências do médico sobre o próprio protagonista. O cavalo, aos poucos, deixa de ser uma personagem de interesse próprio, para se revestir com a pele de um símbolo... um símbolo daquelas divisões, daqueles intervalos, daqueles espaços em negociação a que acabámos de aludir.