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Entre Lisboa e o Estoril, nos lobbies de entrada e nos bares dos hotéis como o faustoso Hotel Palácio ou o Hotel Atlântico, circulavam, durante a II Guerra Mundial, espiões dos principais campos beligerantes, Alemanha e Grã-Bretanha, mas não só. Também os serviços secretos italianos, franceses, norte-americanos, e ainda polacos, checos e romenos, e até soviéticos, atuaram em Portugal, e nas suas Ilhas atlânticas e nas suas colónias de África, na Índia e em Timor. Enquanto o resto da Europa estava a ferro e fogo, Portugal, durante a II Guerra Mundial, foi «terra franca» para os serviços de propaganda e espionagem e palco de alguns episódios verdadeiramente novelescos como a tentativa de rapto dos duques de Windsor pelo SS Walter Schellenberg, dos serviços secretos alemães. A historiadora Irene Flunser Pimentel, autora do livro Os Judeus em Portugal durante a II Guerra Mundial, traz-nos uma investigação única, baseada em documentos inéditos até agora mantidos em segredo, que nos revelam como o nosso país foi, graças à sua neutralidade e situação geográfica, um local importante de plataforma de negociações políticas, bem como de trocas de informações, comerciais, económicas e financeiras, entre os dois lados beligerantes. A situação atlântica, quer de Portugal, quer das suas ilhas e colónias, fez com que a principal espionagem, de ambos os lados, fosse a deteção de comboios de navios, para serem objeto de bombardeamentos aéreos ou de submarinos. Pelo nosso país passaram agentes secretos como os agentes duplos, do XX Comiittee, Juan Pujol, mais conhecido por «Garbo» e Dusko Popov, nome de código «Tricycle», que conseguiriam enganar os alemães sobre o verdadeiro destino do desembarque aliado na Europa, em junho de 1944, desviando as suas atenções das praias da Normandia, onde ele ocorreu realmente, para a zona do Pas-de-Calais. Popov terá ainda fornecido informações aos serviços britânicos do possível ataque a Pearl Harbour. Também o escritor e agente secreto inglês Ian Lancaster Fleming se alojou no Estoril ao serviço do Naval Intelligence Department, e terá sido neste ambiente de guerra e espionagem que se inspirou para criar a figura de James Bond. Mas também os portugueses, quer os elementos da Legião Portuguesa quer os da PVDE, se viram envolvidos nas teias da espionagem estrangeira, chegando mesmo a estar ao serviço, à vez ou em simultâneo, dos dois campos beligerantes.