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Olhos azuis, cabelo preto fala-nos de personagens anónimas que podiam ser qualquer pessoa, mas não são ninguém. Escrito em 1986, por Marguerite Duras, a obra compacta em si uma realidade artística claustrofóbica que nos deixa, irrevogavelmente, presos num clima desconfortável e melancólico.
“Ela dorme. Ele chora. Ele chora por causa de uma imagem longínqua da noite de verão. Precisa dela, da presença dela no quarto para chorar o estrangeiro, jovem, de olhos azuis cabelo preto”, conta-nos Duras. Partimos de uma narrativa extremamente minimalista, tanto a nível de enredo, espaços e personagens, para se abordar o maior tema existencialista da vida humana – o amor. Ainda assim, nada do que acontece se limita às vulgares e comuns demonstrações de amor. As duas personagens incógnitas não se amam e nem tampouco se conhecem. De facto, são tão desconhecidas entre si como para o leitor. O único fator que as une é a existência do estrangeiro de olhos azuis e cabelo preto.
(…)
Olhos azuis, cabelo preto dá voz à ausência, tanto do individuo como da ação, materializando a poesia do silêncio. Foca-se no retrato fiel das predisposições humanas, como o desespero, os desentendimentos e a procura insaciável por algo que nos transcenda. Assim, é uma história contraditória sobre encontros e desencontros, presenças e ausências, posse e perda, angústia e dor. Marguerite Duras apresenta-nos uma obra que olha para dentro de si e disseca o lado sombrio e misterioso da existência humana, de forma a torná-la, novamente, em arte.
Maria Mirra Gonçalves
Tradução da obra por Tereza Coelho
(com assinatura de posse)