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Nenhum imperador romano foi tão severamente condenado pela História como o filho de Agripina, levado ao poder pela vontade da mãe, quando tinha dezassete anos, e morto aos trinta e um anos. Que se deve pensar dessa condenação?
Através de uma série de documentos heterogéneos, que se baseiam em testemunhos autênticos (cartas, actos públicos, fragmentos de diários pessoais e íntimos, etc.), descobre-se a sequência dos acontecimentos (reordenados pelos comentários de um cúmplice, o descobridor da «documentação») bem como as verosimilhanças, as reacções das diferentes personagens, actores ou testemunhas. Torna-se então possível discernir a complexidade do real que a narrativa histórica, que se pretende «objectiva», mascara sob uma aparente simplicidade.
Quem é Nero? Um monstro perverso? Uma criança que ama e é sensível à beleza do mundo? Um adolescente submisso a todas as tentações da sua imaginação? Um provocador desafiador da moral e das leis, e em posição para o fazer? Um criminoso, puro e simples? Desempenhou o seu talento para a música um papel no destino do mundo? E esse mundo, será que mudou?
Cada um dos textos recolhidos neste conjunto de documentos, e dos quais nenhum é inteiramente fictício, reflecte uma faceta da realidade. É ao próprio leitor, e apenas a ele, que cabe tornar-se historiador, descobrir a verosimilhança, o que está para além da lenda, imaginar ângulos de visão possíveis e compor uma personagem e uma paisagem que serão da sua exclusiva autoria e que servirão apenas para si. Talvez tenha gosto em reencontrar, através destes testemunhos, alguns dos problemas do nosso tempo, como por exemplo aqueles que a distribuição das riquezas coloca ou o papel atribuído ao pensamento e à sensibilidade dos homens, postos ao lado dos mecanismos e das fatalidades, que nós assumimos como carcereiros da liberdade humana.