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São 42 pequenas histórias com um pé na realidade e outro na ficção. Pessoas reais convivem com personagens lendárias, e umas e outras parecem feitas da mesma matéria de que são feitos os sonhos, ou seja, da matéria mais humana que é possível conceber. A "tirania dos factos", que tanto assombrava Virginia Woolf, jamais serve de escolho à imaginação transbordante de Zoé, da mesma maneira que o pendor fantasista jamais a impele a desprender-se inteiramente de um sustentáculo realista. Neste sentido, tão verdadeiro é um José Martí (o célebre revolucionário e poeta cubano) transformado em aparição fantasmagórica como uma poetisa que nunca existiu e escreve versos de carne e sangue ou um cantor que nunca ninguém ouviu, mas deixou canções imorredouras. Com uma técnica afinada e tão subtil que passa despercebida, a autora joga com todas as possibilidades da narrativa para tornar verosímeis as situações mais absurdas e fazer tremer as noções mais firmemente estabelecidas. O resultado é um delicioso mosaico de acontecimentos, passos, passagens, voltas, elipses e remissões onde aflora, por momentos, a influência borgesiana, traduzida nas múltiplas possibilidades do jogo que a escrita joga com o universo.