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Edição Difel de 1983
Tradução de Jorge Silva Melo
Sob o mesmo título foram aqui reunidos dois romances incompletos, Actos Impuros e Amado Mio, e um prefácio que a ambos se refere, escrito pelo então jovem autor.
Actos Impuros, até pela sua forma abertamente de diário, é uma comovida descida aos infernos de um eu assolado por contradições profundas, para trazer à superfície o verde paraíso dos anos passados no Friuli.
O eros tem uma predominância tão absoluta que os acontecimentos da guerra passam para segundo plano e os bombardeamentos aéreos parecem quase fazer parte da rotina quotidiana.
O eixo sobre o qual gira toda a narração é o amor cheio de ternura entre o escritor, com pouco mais de 20 anos, e um rapaz aqui apresentado com o nome de Nisiuti (nos diários vem indicado pela inicial T.); trata-se provavelmente do único amor verdadeiramente retribuído que Pasolini conheceu na sua vida e perante o qual é também redimensionada, creio, a relação com Ninetto Davoli.
A história vai de 30 de Maio a 22 de Novembro de 1946, quando Nisiuti tem já 16 anos, mas no seu íntimo volta frequentemente atrás no tempo. Encontramos a violinista Dina, inutilmente enamorada do jovem, que nunca poderá aceitar outra mulher, em toda a vida, além da mãe. E encontramos os dois rapazes que precederam Nisiuti.
Actos Impuros baseia-se na força da confissão autobiográfica, colhida como nasceu, em diário, antes da intervenção do intelecto para distanciar o eu da matéria incandescente que se pretende transformar em escrita.
Amado Mio revela já parcialmente ocorridas as várias fases de transformação da vida vida em objecto literário. Os dois trabalhos integram-se reciprocamente, como se cada um conseguisse emprestar um pouco da própria luz aos pontos mais fracos do outro; e por certo não é por acaso que Pasolini, tanto no Prefácio como numa entrevista posterior, os tenha juntado como se fossem uma única obra.