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Edição Relógio d’Água de 2025
Tradução de Júlia Ferreira e José Cláudio
Tendo permanecido inacabado em vida do autor e sendo publicado em 1881, no ano após a sua morte, este livro é hoje considerado uma das obras-primas de Flaubert.
Bouvard e Pécuchet, dois copistas reformados, um viúvo, o outro celibatário, decidem ocupar em conjunto a sua solidão. Retiram-se para o campo e embarcam numa busca incessante pela verdade e pelo conhecimento. Da agricultura à filosofia, passando pela política e a literatura, todos os saberes são objeto da sua curiosidade e experiências. No processo mantêm-se otimistas, apesar de cada nova tentativa de compreender o mundo acabar em desastre.
Na tradição literária de Rabelais, Cervantes e Swift, a história é contada com uma mistura de sátira e empatia, levando o leitor a desenvolver afeição por estes dois D. Quixotes das Ideias, ao mesmo tempo que denuncia a pobreza de espírito dos contemporâneos e a estupidez humana.
Esta edição inclui também o Dicionário das Ideias Feitas, a mais ácida cartografia da estupidez social concebida por Flaubert. Sob a forma de um dicionário, o autor recolhe lugares-comuns, frases feitas e juízos automáticos que circulavam na França do século XIX, desmontando-os pela simples exposição irónica. O que parece, à primeira vista, uma colecção de trivialidades revela-se, na verdade, um retrato implacável da mediocridade burguesa e do pensamento repetitivo.
Para Flaubert, a bêtise não reside no erro ingénuo, mas na adesão cega a fórmulas herdadas, na incapacidade de pensar para além daquilo que a sociedade consagra como evidente. Cada verbete do Dicionário expõe essa linguagem fossilizada, mostrando como a opinião comum se transforma em verdade preguiçosa.
Publicado postumamente em 1911, o texto deve ser entendido como parte do vasto projecto literário de Flaubert. Em diálogo com Bouvard et Pécuchet, que encena a acumulação ridícula de saberes mal digeridos, o Dicionário oferece a sua versão sistemática: um inventário crítico da banalidade intelectual.