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Edição Fenda de 1989
Tradução de Pedro Tamen
Um olhar absolutamente virgem espia o aperfeiçoamento científico do mundo, ultrapassa o carácter conscientemente utilitário desse aperfeiçoamento, e situa-o, com tudo o mais, na própria luz do apocalipse. Apocalipse definitivo é esta obra na qual se perdem e exaltam as grandes pulsões instintivas em contacto com uma gaiola de amianto que encerra um coração aquecido até ao branco. Tudo o que, durante séculos, de mais audacioso se pensar e empreender, já aqui de antemão foi, na sua lei mágica, formulado.
O verbo, e não já o estilo, sofre, com Lautréamont, uma crise fundamental, marca um recomeço. Acabaram-se os limites que permitiam às palavras estabelecer relações com as palavras, e as coisas com as coisas. Um princípio de perpétua mutação apoderou-se tanto dos objectos como das ideias, tendente à sua total libertação, a qual implica a libertação do homem. A linguagem de Lautréamont é, quanto a isto, não apenas um dissolvente, mas um plasma germinativo inigualável.
André Breton, na Antologia do Humor Negro
Isidore Ducasse, Conde de Lautréamont, nasce em Montevideu, no Uruguai, em 1846, de pais franceses, morre em Paris, em 1870, com 24 anos. Não deixou memórias nem um só retrato.
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