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Edição Vega de 1988
Tradução de Pedro Tamen
O domínio do fantástico na arte é muito amplo e sujeito nisso a uma variedade de efectivações. Digamos sumariamente que há o fantástico realista e o realismo fantástico ou mais expressivamente o realismo irrealizante. Entendemos assim que o primeiro é uma variedade do realismo vulgar e que apenas escolhe para seu campo de operações a própria fantasia. Ele é assim, digamos, muito mais “fácil” ou pelo menos de menor originalidade.
Mas há o outro, o que se fixa no real, às vezes com um rigorismo quase “científico” como o de Kafka, em que não saímos do domínio do conhecimento mas que em dado momento oscila nos seus contornos e nos leva a darmo-nos conta de que já não estamos nos limites de relações conhecidas e estáveis.
Julien Gracq sabe magistralmente estender sobre o real imediato uma neblina incerta, uma dominante de silêncio que faz sinais à outra realidade do real, um subtil transreal que nos atinge do real, um subtil transreal que nos atinge obliquamente de suspeita e mal-estar. E é aí precisamente que começa a grandeza da sua arte.
Decerto o “tema” não se furta à nossa atenção. Mas o que transborda dele é que particularmente nos afecta e permanece na nossa emoção indizível e angustiante.
Vergílio Ferreira