Sê o primeiro a adicionar este livro aos favoritos!
Edição KKYM de 2016
Tradução de António Preto
A história das imagens não vive apenas ao ritmo manifesto dos renascimentos e obsolescências; vive ainda ao ritmo latente das Sobrevivências. Já Aby Warburg, que interrogara a arte ocidental sob o prisma da «Sobrevivência da Antiguidade», prestara particular atenção a essa figura em movimento, vestida com panejamentos esvoaçantes que ele apelidara Ninfa, espécie de semi-deusa ou personificação dos eternos retornos das formas antigas.
Este livro vem aprofundar e prolongar a investigação warburguiana da Ninfa, do seu corpo, pose e panejamentos, desde a Antiguidade até aos seus avatares contemporâneos. A argumentação desenvolve-se como o desenrolar de uma montagem cinematográfica, entre a lenta queda da Ninfa e do seu panejamento, que se desprende do corpo até cair abandonado como o despojo mais baixo da representação.
As Vénus alongadas da Renascença e as mártires barrocas tombadas por terra definem uma trajectória sublinhada por inúmeros artistas – Atget, Brassaï, Picasso, Moholy-Nagy, Fleischer, McQueen, entre outros – que, ao debruçarem-se sobre o que nas ruas das grandes cidades se encontra caído, como os panos amarfanhados nas sarjetas de Paris, conseguiram construir um surpreendente e estranho leitmotiv da modernidade.
Imagem miserável, esfarrapada e sublime; intempestivo e soberano resto trabalhado pelo tempo; imagem do presente constituindo «uma imagem íntima do Outrora», segundo a bela fórmula de Benjamin; ou uma «reminiscência», segundo Freud.