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Edição Presença de 2001
Tradução de Nina e Filipe Guerra
Dostoiévski, considerado um dos grandes iniciadores da literatura moderna, é também, em muitos aspectos, um precursor do pensamento de Freud pela compreensão das motivações profundas e não conscientes, do sofrimento psíquico, da linguagem dos sonhos, dos laivos de loucura que caracterizam os comportamentos.
Como em O Idiota, aqui o ciúme é o tema-chave; mas, enquanto naquele livro os conflitos são vividos por caracteres dotados de força interior, em O Eterno Marido, esse sentimento é elaborado em função de uma personagem frágil, propensa a uma passividade que o expõe ao ridículo, e as suas tentativas de abafar os ressentimentos e alcançar a felicidade a todo o custo acabam por se exteriorizar assumindo os contornos do crime.
Contudo, mais do que esta compreensão que Dostoiévski possui em relação aos comportamentos, fascinam-nos o seu alcance filosófico e a sua intuição poética, que nos deixam perante o enigma do psiquismo humano como mistério insondável. O Eterno Marido, publicado pela primeira vez em revista em 1870, só um ano depois seria editado em livro.
O Eterno Marido foi escrito por Dostoievski durante o período que viveu em Dresden. O romance seria publicado em 1870 na revista Zarya. Aleksei Ivánovitch Veltchanínov, preocupado com uma questão jurídica, é assediado pela presença de um estranho homem que usa um fumo de luto no seu chapéu e se cruza várias vezes com ele.
Este estranho personagem acaba por lhe bater à porta a meio da noite e Veltchanínov reconhece o marido de uma antiga amante. A mulher já morreu, mas o marido não conseguiu desfazer-se do fascínio que sente pelo ex-amante.
É a partir deste enredo que Dostoievski constrói uma narrativa sobre a fatalidade das relações humanas, uma sinistra história de adultério e reencontro, constatando a tendência para a reprodução de comportamentos de humilhação e fracasso.