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Edição Difel de 1985
Tradução de Jorge Silva Melo
Contém dedicatória de oferta
“Sou um realizador que escreve e não um escritor”. Nesta declaração de Antonioni está implícito o possível método de identificação de um artista cuja obra testemunha a tensão entre uma pluralidade de linguagens expressivas, abarcando a literatura, a pintura e o cinema.
É no cineasta, e no cinema enquanto ponto de irradiação, que o pintor e o escritor se identificam, dando forma estética a algo que está além e aquém da imagem cinematográfica. Quero com isto dizer que o escritor Antonioni, na multiplicação de incidentes e intrigas das suas narrativas literárias, esgota o que é provisório e está antes da imagem, como desejo e anunciação do seu nascimento.
Toda a intriga é provisória, literária se se quiser, e por isso o cinema de Antonioni, vindo depois da literatura, surge tão secreto, depurado e minimal. Pelo contrário, o pintor Antonioni, ampliando até à desmesura o que na imagem pareceria ser permanência, instala a crise do seu estatuto, narrando, se assim se pode dizer, a misteriosa intriga invisível em cada imagem cinematográfica.
Desde o seu primeiro filme, nos idos de 50, que Antonioni viveu essa tensão entre um aquém e um além do cinema. Tendo como experiência formativa e como horizonte de referência o neo-realismo do pós-guerra, o cinema de Antonioni impôs-se como exigência mostrar o que está antes e depois da relação do indivíduo com a sociedade. Assim, por meio do que se poderia designar como um olhar fenomenológico, os seus filmes descobrem a estrutura primordial do indivíduo e aquilo que nele resta depois de atravessar a rede das vicissitudes sociais.