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Edição Fora do Texto de 1989
Tradução de Maria Teresa Guerreiro
Posfácio de Joaquim Manuel Magalhães
Edição bilingue português/inglês
Philip Larkin definiu poema como “the pickling of an experience”, o conservar duma experiência. Muitos dos poemas da escassa obra de Larkin - e muitos dos que foram seleccionados para esta antologia conservam experiências universais: o medo da morte, o retorno a paragens do passado, a ida à praia, os desencontros de amores por fim recusados, os armazéns baratos que atraem as classes trabalhadoras urbanas aspirantes ao estatuto de pequena burguesia...
A substânca da conserva, contudo, (chamar-lhe-ia, seguindo a metáfora de Larkin, o vinagre do pickle) é absolutamente específica: trata-se de experiências geradas por um contexto social unicamente inglês e filtradas por uma língua inglesa de precisão espartana. Mais, talvez, do que qualquer outro poeta do pós-guerra inglês, Larkin molda a língua por forma a extrair dela qualidades de definição fotográfica. Fá-lo com uma economia permitida pela própria estrutura gramatical da língua inglesa, que prefere a contracção à expansão, opta frequentemente pelo subentendido e exprime por vezes apenas na ordem das palavras o que, numa língua como a portuguesa, requer elementos de ligação como preposições ou pronomes relativos.
Mas como se a economia intrínseca da língua inglesa não fosse suficiente, Larkin sabe impor-lhe a sua própria economia e isto é particularmente aparente no uso da negativa, por exemplo, no poema “Maiden Name” (p.34), v. 18 “unfingermarked” ou mesmo da dupla negativa, por exemplo, nos dois últimos versos do poema “Talking in Bed” (p. 52): “Words at once true and kind,/Or not untrue and not unkind”. E tudo isto dentro duma estrutura poética classicista, com controle absoluto dos processos de métrica e rima.
Aqui começam apenas as dificuldades, o desafio e, em última análise, a frustração de tentar traduzir para português os poemas de Philip Larkin.
Da introdução de Maria Teresa Guerreiro