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Lisboa: Urbanismo e Arquitectura de José-Augusto França, foi publicado pelo Instituto de Cultura e Língua Portuguesa em 1989 (2.ª edição), como parte da coleção “Biblioteca Breve” (n.º 53).
Trata-se de uma síntese histórica em sete quadros, onde o autor reconstrói a evolução da cidade desde a formação medieval até à Lisboa modernista de cerca de 1980. É um volume de “introdução sistematizada” que cruza urbanismo, arquitetura, política e vida social, recorrendo a vasta bibliografia e a investigação original para preencher lacunas da historiografia sobre a cidade.
A narrativa começa na cidade medieval, nascida “do rio” e estruturada em torno do castelo, da cerca moura e, depois, da cerca fernandina que engloba os arrabaldes da Alfama e da Baixa. Lisboa afirma-se como porto comercial de primeira ordem, com uma malha densa de ruas, becos e conventos, e uma população que cresce ao longo da Idade Média até à cidade joanina, já percecionada por viajantes como grande, mas desordenada.
Segue-se a cidade manuelina e filipina, marcada pelos Descobrimentos: o Paço da Ribeira e o Terreiro do Paço deslocam o centro do poder para a beira-rio, enquanto o Bairro Alto, loteado e traçado em grelha, surge como primeira grande operação urbanística regular. Já no século XVII, sob domínio filipino e após a Restauração, multiplicam-se palácios e conventos, e obras como S. Vicente de Fora e Santa Engrácia introduzem um maneirismo e barroco de forte impacto simbólico, embora a cidade mantenha um tecido medieval e irregular.
A grande rutura dá-se com a cidade pombalina, após o terramoto de 1755. França descreve a catástrofe, o papel decisivo de Pombal e o plano racionalista de Manuel da Maia, Eugénio dos Santos e Carlos Mardel, que transforma a Baixa num reticulado ortogonal de ruas largas, edifícios normalizados e novas praças, fazendo de Lisboa um caso maior do urbanismo europeu e separando definitivamente a cidade medieval-barroca da cidade moderna que o século XIX desenvolverá.
Na "cidade romântica", oitocentista, o impulso pombalino é prolongado por grandes equipamentos e pelos palácios da aristocracia e da nova burguesia, enquanto o revestimento azulejar das fachadas, vindo em “torna-viagem” do Brasil, dá uma identidade visual específica ao casario banal.
A “cidade capitalista” nasce com o Fontismo: abertura da Avenida da Liberdade, planos de Ressano Garcia para as Avenidas Novas, expansão além da circunvalação de 1852. Lisboa cresce rapidamente em população e área, mas o capitalismo “sempre fruste” traduz-se em especulação imobiliária, “gaioleiros” e “patos bravos” que degradam a imagem urbana, apesar de alguns edifícios de prestígio, prémios de arquitetura e tentativas de monumentalização.
Por fim, a “cidade modernista” acompanha o crescimento explosivo entre 1900 e 1930, os planos falhados e os primeiros projetos sistemáticos de urbanização, até à Lisboa do Estado Novo, com Duarte Pacheco e Cristino da Silva a moldarem novas centralidades (Arieiro, Avenidas Novas, Restelo), entre ambições imperiais, bairros de luxo e urbanização modesta. O livro encerra com a Lisboa de finais de século XX, já marcada pelo metropolitano e pela ponte sobre o Tejo, cada vez menos “beira-rio” e mais cidade de terra firme, sintetizando uma longa história em que formas urbanas e arquitetónicas refletem, em cada época, as tensões sociais, políticas e económicas da capital.
Há muito esgotada no editor, esta é uma oportunidade de adquirir uma excelente obra de referência da história da cidade de Lisboa.
- Encadernação: capa mole c/ badanas
- Ano: 1989 (2.ª ed.)
- Páginas: 133
- Dimensões: 19 x 11,6 cm