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Nenhum discurso político contemporâneo prescinde de referências à classe média. Ora em tom encomiástico, apologético e até messiânico, elogiando as suas virtudes de empenho, talento e mérito; ora realçando o seu papel de articulador da estrutura social, espécie de modelo para a mobilidade social e pivô das mudanças societais; ora como estabilizador, árbitro e nó central das dinâmicas políticas; ora como conjunto de camadas a serem conquistadas para a obtenção de maiorias aritméticas e políticas; ora, em sentido contrário, para enfatizar a quebra do elevador social, a sua crescente vulnerabilidade à desclassificação social, pauperização e precarização.
Mas quem é a classe média, ou as classes médias? Pois é toda a gente, ou pelo menos quase toda a gente assim responderá. Mas, sob este manto comum de identidade, convivem posições e representações sociais muito distintas. Tem de haver um plural para classe média: a de cima, que se cola e projeta na burguesia, e a de baixo, pauperizada e comprimida às classes populares; a do público e do privado, a das áreas metropolitanas e a do rural em transição; a tradicional e a nova.
Neste livro partiremos de estatísticas, relatos biográficos e análise de discurso para conhecermos um pouco melhor a classe média portuguesa. Como vive, como se reproduz, que dificuldades enfrenta, como se mobiliza politicamente, que estilos de vida desenvolve. Mostraremos como é frágil e assustada, espremida e comprimida, em particular após a grande crise.