A Voz

A Voz: Sob este título, encontram-se aqui reunidos, alguns contos, até à data nunca traduzidos e publicados em português, de Rainer Maria Rilke. Rilke não procurou descrever um mundo fantástico, mas acontece que a realidade lhe parecia insólita; à medida que ia conquistando novos territórios para a sua poética, a descrição da realidade, feita pelo senso comum, carecia, a seus olhos, de mais ampla justificação. Os seus contos são, certamente, abordagens do lado menos evidente da realidade comum. São tentativas, ora românticas, ora irónicas, ora «negras», para captar o estranho. Alguns textos (Aventura I e Aventura II, nomeadamente) são mesmo descrições de experiências pessoais do poeta. Momentos singulares da sua vida, em que o seu corpo, tendo suspendido a actividade crítica e censurante da razão, conhece um estado de profundo bem-estar, no qual, os mortos puderam ser acolhidos, na sua presença invisível. E, curiosamente, nesse instante, compreendeu o seu corpo que os mortos não são estranhos que voltam, mas companheiros atentos da vida dos homens. Jung dizia que os mortos estão sempre com os vivos, na esperança de que estes façam melhor do que eles fizeram. «Aconselham a viver» — imaginava.

Detalhes do livro::

Editora: Rolim, 1994; Colecção: Biblioteca Insólita; Tradução: António M. Gonçalves, med.: 14,8 x 20,5 cm; 84 pg.