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Gay Talese era já um dos mais aclamados jornalistas americanos quando, no dia 7 de Janeiro de 1980, recebeu uma carta anónima. O autor revelava um extraordinário segredo: era dono de um motel nos arredores de Denver onde instalara uma "plataforma de observação", através do qual espiava - há décadas - o que acontecia em cada um dos 21 quartos. Na sequência da carta, Talese viajou para o Colorado, onde conheceu o seu autor, Gerald Foos, que se auto-intitulava "o maior voyeur do mundo". Gerald queria contar a sua história, mas punha como condição permanecer no anonimato. O jornalista recusou.
Nos anos seguintes foi recebendo cartas de Gerald, e excertos de um diário detalhado sobre o que o voyeur via na intimidade dos quartos. E via muito. Sexo, traições, ménages a trois, mas também solidão, desespero, crimes e até um assassinato. Testemunhava, ao mesmo tempo, o rosto de uma América que mudava: os anos da libertação sexual, a crescente miscigenação racial, a explosão da homossexualidade, o surgimento de novos géneros sexuais…
A história poderia ter ficado perdida. Mas quando em 2013 o dono do motel decidiu sair do anonimato, Gay Talese aceitou escrever a sua história. O resultado é um extraordinário trabalho de jornalismo narrativo, onde se cruzam as entradas do diário do voyeur com as observações do jornalista.